sábado, 3 de julho de 2010

ROBERTO PIVA (*1937+2010)


1.
a noite me esconde num nevoeiro,
é sábado, e as ruas estão caladas.
caminho devagar até o princípio.
Debaixo de sua janela, sento na calçada,
rabisco Piva na poeira da sarjeta,
- soube de sua morte há pouco. vim me despedir.
me pergunto olhando a persiana cerrada, onde escondeu os binóculos de ver colorido o corpo nú do picadeiro cruzado do nosso Reino, a vitrola onde por horas sonhou A Love Supreme, as agulhas e os brócolis, e os cadáveres e as coxas de seus jovens, o xarope tropical para a inflamação urbana, toda a parafernália sem preço do seu Tempo,
- já levaram tudo?
.
faz uma noite fria de início do Inverno,
vejo a lua iluminar torvelinhos do tempo,
é um bueiro apenas,
algo chacoalha calafrios nas árvores,
é o vento.
- para onde foi o mistério?
eis que uma sombra me acena
outra sombra me assovia
ali o felino mensageiro à frente da legião eterna,
jaguares azuis de pés descalços
xamãs camuflados,
deixam a penumbra dos cantos da Santa Cecília,
brujos dançarinos, literatos, camundongos, pares de reluzentes esmeraldas fechadas
em capuzes de profundo escuro, toda flâmula dos velhos Sacerdotes Marginais
a rastejar correntes, guirlandas floridas e ramos de manjericão
em cortejo & tochas, rumam ao topo da Consolação
em direção à câmara do Araçá,
a fim de saudar a Passagem da Nova Matéria.

2.
depositada na estante:
- a mensagem de Piva
ossos e a terra do Maravilhoso
: fósseis da inesgotável fonte.
fértil onde brotarão ferozes gerânios
permanecerá nos velando do alto da vida
o olho da Verdade, o olho da Cura.
com danças, amor e anarquia.

3.
VIVA! ROBERTO PIVA! VIVA

Nenhum comentário: