
"Do cadafalso do mundo, observo birutas nos arranha-céus"
Texto 1.
Na iminência da débâcle, o olhar apreensivo de Terry O. fisgou os macios seios da corretora loira que devorava os cotovelos encostada num dos balcões do fundo da sala. Num escape às profundezas do nada, entorpecia o corpo com a imagem sedutora. Suas células impulsivas se reconfortavam enquanto à árida espera sem fim das novas cotações no painel já lhe causavam sensações angustiantes.
Por um momento ele não estava lá. Com mente e pele distraídos, até a alucinação. Aqueles seios eram imensos, farejavam com seus dois bicos delicados o mormaço das negociações; farejavam pescoços, virilhas, axilas – procuravam desejo na fonte agora seca de emoções, brochada pelos temores. Seios sedutores, maliciosos em seus movimentos, Terry O. por nenhum momento se penitenciou por tirar os olhos de seus deveres, era de um mergulho na carne que sua carne aguardava ansiosa.
Estremecido, suava frio em seu oásis, ainda se dividia com os problemas mundanos, o vapor da areia traria chuva mais tarde? Coçava o cenho, os seios brancos se derretiam em calda e se aproximavam em cheiro. A mulher dançava desequilibrada em sua magreza, o tiroteio dos seus olhos marcavam o ritmo em Wall Street, sob o tintilar das conchas, a areia macia e a água em abundância.
Nenhuma terra do planeta era comparável, esta a sensação dos primeiros náufragos em seus limites. Enquanto lambia com fervor a auréola arrepiada dos seios oníricos de Samantha, Terry O. perdia a cara dos números, queria falar de amor, lembranças, futuro, mas criado no poço dos desejos alimentava-se nas tetas secretas da corretora sem pensar, sem reagir.
Por ele, deveriam ir ao ápice o quanto antes. Por um momento lembrou do chão sob o qual pisava: ali devaneios eram fugazes, o fluxo sem fim não resistia aos obstáculos, como algo encaixado no lugar errado, um zíper emperrado ou uma fila de banco.
Já que os seios não contentavam suas células, rasgaria a roupa, faria charme com a gravata, decidido a passar um último momento antes do apocalipse furando aquela carne que derretia em calda e lhe dominava o desejo. Algo inegociável com patrões, repórteres, números, cocaína: homens. A grande farra é agora, na eminência da débâcle.
Abriu a braguilha, sacou seu imenso pau de mais de dois metros, insurgiu um chimpanzé enfezado chicoteando com prazer a pica; doíam-lhe as bolas; aterrorizava a todos. Subiu sobre a mesa de operações ao lado do balcão principal. Pulava. Torcia pescoços com seu laço, causou gritaria nos corretores mais jovens. A agente loira, ainda com os seios cobertos, não procurou abrigo, permaneceu onde estava, desconfiada quanto às intenções daquele cara de olhos serpenteadores.
Quando Terry O. avistou aquele animalzinho, nada temeroso, esbanjando tranqüilidade, suas divisões cessaram. Paranóia e destino em dois mundos não mais habitavam. Ele correu veloz, decidido, para o fundo do escritório donde Samantha lhe observava. Um caminho sem volta sob areias escalndantes.
Seu olhar era feito de um gato que encerrava num pássaro o destino. O pouco de homem que restava sobre suas patas não desintegrou a vontade, mas permanecia trágico - cego a ponto de não saber como extrair prazer com sua antes hábil moedora de carne.
Rasgou a cara da corretora com ira no primeiro golpe, seguido de outros socos e pontapés ferozes. Nenhum outro macaco ousou interferir, disfarçavam o olhar na copa das árvores. A fêmea confusa, em sinal de arrependimento, abaixou a cabeça e foi catar piolhos na nuca do macho.
A tarde não era das mais tranqüilas, o calor excessivo daqueles dias formavam chuvas à vista no céu. Os macacos, mascando feno imaginando a humanidade, não sabiam o que lhes aguardava.
Arte: Will Murai
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